sexta-feira, 4 de abril de 2014

pela manhã

... e um dia acordei, assim tão de manhã que os pássaros gritaram. Era a luz do dia que entrava pela janela da alma e a cegava. Os lábios sabiam a mosto e parecia-me que na noite anterior as bebedeiras se mudaram na pauta entre colcheias e suspiros. Lancei-me nas ondas de borco, e purifiquei, senão a dita, o corpo.

Virgínia de Sá

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A poesia é um filtro da ternura que às vezes escondo na distância

Posso eu dar se tu não queres?
E tu queres receber?
Ou estou a incomodar-te sem querer?
Banalidades, frases feitas, poesia encomendada...
não se vende, não se compra, assim não me sabe a nada.
A poesia, escapa-se, revolta-se, revolve-se,
não quer ser moldada. Escorre-me pelos dedos e é como a ternura. Já não é filtro. É ela própria.
É água, é vinho, é espuma... ou nem sequer coisa nenhuma. Raiva, luta, decepção. Dança; cor; diapasão.
Ultrapassa a própria tinta na luta da criação. É verbo; é luz; é pão!

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

é preciso ter sentido de amor

e então
Foi no tempo em que a folha caía
a sopa estava ao lume
e a alma já não doía caiu uma folha e bummm
como se a alma caísse
tudo ruiu
e o raio que o partisse
nada disse e partiu

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Raios partam os malucos

Nova janela

Raios partam os malucos!.

E boca kiuza. Não vá a alma falar mais alto, ou o coração abrir as portas e uma ventania uivante e estonteante entrar por ali a dentro e esvaziar o que tão bem se juntou durante anos. Porra!  Imagina-te lá a entrar-te uma ventania pelo coração a dentro, Incontrolável e incontida a esventrar-te a aorta, a cava o ventrículo esquerdo e o direito limpando o que acumulaste de imagens e sentidos durante épocas sucessivas de relações inférteis, de empregos mal sucedidos, frustrações de cama e de silêncios e de gritos e de conversas sem sentido e de projectos feitos e refeitos e mal sucedidos?

Melhor calar a boca! Porra! Melhor calar a boca! Ver jogos de futebol sucessivos, e filmes e filmes, e televisão, e fumar entre 40 a 50 cigarros por dia. Porra! Era o que faltava! Não, comigo não! Não vá um gajo tornar-se saudável, começar a levantar-se às oito da matina para dar passeios na natureza e começar a acompanhar com aqueles gajos que fazem meditação, andam para ali a fazer gestos em silêncio e a chamarem-lhe Tai Chi, e até dizem que vêem coisas... Porra! Comigo não! Chiça! Amanhã joga o Sporting. Sagrado! Sagrado! Olha lá! ... a mulher até queria que eu deixasse de fumar! Chiça! Raios partam os malucos!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Resposta a COMUNICADO COFFEEPASTEE

 Em resposta a um comunicado do Coffeepaste onde decidemdeixar de publicar  anúncios de trabalhos profissionais não remunerados 

Cumpre-me dizer o seguinte.  Entendo muito bem as vossas razões
e agradeço as vezes que divulgaram o nosso trabalho de forma útil
e sem comparticipação da nossa parte.  Tornou-se infelizmente um hábito
alguns  empresários pensarem que só eles pagam impostos, rendas e inerentes,
se alimentam e se locomovem. Só daí poderá advir tanto descaro tal proliferação
de oferta de trabalho não remunerada. 

Ressalvam no vosso comunicado e muito bem, actividades de amadorismo ou projectos
escolares.  

Fiz durante alguns anos parte de um grupo de teatro amador, com muita honra.
Já que infelizmente na maior parte dos casos, ou totalmente,  está vedado o apoio monetário
de uma Secretaria de Estado da Cultura (pergunto-me se ainda existirá tal organismo? ou a
existir, se terá alguma funcionalidade prática?) haja alguém que apoie tais artistas que qual
Bombeiro Voluntário acodem em tempo de crise a salvar as alminhas da tristeza e depressão.

Assim, louvo a vossa atitude e exprimo a minha gratidão pelo vosso trabalho.

Saudações fraternas
Virgínia de Sá

segunda-feira, 19 de julho de 2010

MOMENTOS

Momentos

Ai o fogo na palha
O teu peito no meu
calha
que ondas se levantam!
Que as aves se espantam
e o teu grito no meu cala
a tua boca na minha
o meu peito avezinha
ao levantar das asas
teu sexo em meu, caminha !

ALMA NUA

Nua.
E crua.
A luz da Lua.
Brilha e rebrilha sobre a pele nua.
A bola
rola , rebola.
A menina que não dorme.
A menina do olho que eu já não sou menina.
Brinco
com as palavras.
As palavras são cardos que ferem a pele. Preciso
ferir a pele para sentir o brilho dos teus olhos.
Preciso alargar a ferida, a fenda, penetrar
penetrar-te, penetrar-me. O grito !
O grito mudo. O grito rouco. O sussurro que ouvia dos teus lábios ainda há pouco.