segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

VIAGEM QUE NÃO SEI ONDE VAI PARAR

VIAGEM QUE NÃO SEI ONDE VAI PARAR

A perna vai entrando através da borracha o pé que prende.
Isto é mais difícil do que eu pensava, isto de ficar invisível tem que se lhe diga. Depois a segunda perna ainda mais difícil, prende, tropeça, rende, tropeça,cai. Caio para a frente, tenho que amparar-me antes que me espalhe ao comprido no chão. Invísivel, mas não imutável... ainda que AINDA NÃO INVÍSIVEL. Por fim lá consigo enfiar as duas pernas. Agora sim é que são elas como enfiar as ancas embora estreitas ali naquele tubo? E a barriguita proeminente depois de duas vezes gerar a cria a primeira vez apenas à distância de três anos do primeiro cio?
Puxo, puxo, suo, sopro, rio-me. Agora sim! Os braços! Sim, os braços.
Ainda mais difícil. Quase desloco uma costela num esgar de contorcionista mal preparada. A mão que prende! Quase choro de raiva ao empurrar o segundo braço. Agora é só encolher tudo. Abdómen comprimido, conseguir enfiar as mamas, que hoje estão maiores que nunca, dentro da borracha azul escura. Uma espécie de Neptuno, sem sexo, sem corpo. Ah... falta o cabelo. ERRADO. Cabelo é que não falta. Falta enrolá-lo por forma a que caiba na touca carapuço e agora sim Neptuno, sem corpo, sem sexo.
Começo por onde?

Agora que sou Neptuno invísivel, confundo-me com a bruma (pas de Avallon), quero confundir-me com a bruma para poder encostar-me no teu corpo, sem que o sintas, para que não possas afastar-me. Poder mirar-me nos teus olhos. Vês qualquer coisa à tua frente mas não podes adivinhar que seja eu. Enxotas-me como a um mosquito, porque és intuitivo e lá no fundo do mar, sabes que estou ali. Mesmo que o não queiras. Porque TU SABES que queres. Que queres mais que tudo SABER PORQUE ESTOU ALI MESMO QUANDO JULGAS QUE NÃO ME CHAMASTE. Mas sabes que chamaste, quando na primeira vez os teus olhos me fizeram perguntas. Quem és? Quem és?
Mas tu sabes quem sou. Só tu sabes.

Estás nu. Encosto-me por detrás de ti, só para sentir o teu cheiro, a
tua pele, ainda que entre a tua e a minha se interponha a pele de
Neptuno, meio peixe, meio homem.

E é mesmo aí que a sereia torce o rabo e uma espécie de Unicórnio começa a querer fender a pele de Neptuno. Sentes-te incomodado. Sonhas vagamente com uma cena de violação. Mas Neptuno é um rei. Impõe-se pela sua nobreza. Não recorre a truques baixos. Afasto-me devagar. Agora estou de frente para ti. As tuas pálpebras fremem em REM. Observo os contornos do teu rosto. Não são bonitos, (?) mas são familiares. Conheço-os de cor. Vejo-te os lábios que me apetece beijar com avidez. Ah se tu soubesses a força de Neptuno. Como ele podia subjugar-te apenas pela força do prazer! A sereia volta e sinto os mamilos rijos que quase ferem a pele de Neptuno. Mas o rei volta a dominar o bicho meio peixe, meio mulher. No meio da bruma vejo uma mão que se ergue branca e macia e acaricio-te o rosto, os lábios, com as pontas dos dedos transformados em pétalas de rosa faço-te carícias plenas de amor refreando a paixão.

Só quero agora que sejas o meu menino tenrinho que transporto ao colo
num doce mergulho. E tu deixas-te guiar. Nos ouvidos um som de búzio,
o marulhar das águas, como se estivessemos outra vez unidos no ventre
materno. Vummmmmmmmmm...Vvvvvuuuuuummmm. Encosto-te a cabeça no meu ventre e tu sonhas que mergulhas. Tens um sorriso de paz estampado no rosto. Apetece-me E SOU contagiada por essa paz. Começo a tornar-me pequenina para caber nos teus braços. Aninho-me neles e agora sinto-me no colo da mãe. Tudo é fim e príncipio... Não sei nem onde começa nem onde acaba. Mas sei que encontrei o meu lugarzinho onde me sinto em segurança... Que não quero sair dali nem despir o meu fato de Neptuno, para não me afastares. Tum,tum,tum,tum, ... é o teu coração. Parece um pássaro que esvoaça. Através das águas profundas o brilho da aurora vem colocar matizes nos meus olhos. Começo a ver o pássaro que bate as asas cada vez mais rápido. Coloco-te sobre o peito as pétalas dos dedos.
Sossega. Sossega. Não sabes quem estava comigo na cascata? No dia
em que o puto viajou dentro do coração? Não sabes? Não sabes? Eras tu!

E VEM UMA FOLHA



E vem uma folha rodopiando dourada e castanha ao mesmo tempo me faz pensar Outono, decadência, o que precede a velhice, as artrites, as artroses e as atrozes dores nas costas, nas cervicais, nos pés, nos tornozelos e noutras coisas mais. O medo da solidão.
Ah o medo da solidão! Das noites frias sozinhas e caladas. Das noites caladas em que as palavras não ressoam nas paredes nuas, das minhas mãos que já não têm as tuas, das bocas engelhadas, desdentadas. Das mulheres esventradas que entram paredes dentro como facas afiadas. Dos sonhos perdidos, dos pesadelos, dos gritos e dos grelos.
Crescendo nos vasos de terra estéril com desvelos de velhas a arrancar cabelos! O medo da falta do teu corpo sobre o meu a arrancar gemidos e gritos e pedidos. As asas de um corvo sobre a chaminé.
E os fantasmas que não arredam pé. E os gritos! Os gritos mudos que não dei. E todas as palavras que calei. Por não ter quem ouvisse, tudo !

AMAR O QUE É?

AMAR O QUE É?


É cuidar
Amar é cuidar que as tempestades não cheguem
a atingir o outro.

É fazer com ele esteja feliz, saudável e se sinta
seguro de que é amado em qualquer circunstância.

É preservá-lo de ser atingido pela vontade de alguém
o destruir.

É dar mimo. É dar carinho. É colocá-lo acima de qualquer coisa.

COMO A COLHER NO QUEIJO!

COMO A COLHER NO QUEIJO!

Agora a tua boca queima a minha boca
A minha língua lambe a tua língua
E ,mordo-te o pescoço
E beijo-te no peito
E o teu umbigo liga-me ao Universo através de ti
Coloco-me sobre ti e estamos os dois unidos e voamos
Percorre-nos a volúpia dos sentidos
Somos ondas. Pelos meus rins passam ondas em frémitos.
Sacodes-me e somos um e voamos.
E a tua boca na minha ávida e serena ao mesmo tempo
Agora pétalas de flor, agora a força do amor, o grito e o desejo.
Quero-te, aqui, ai a força de um beijo
A tua carne a penetrar-me como a colher no queijo!

RESUMO DE UMASEXTA À NOITE


ou

Entre o côncavo e o convexo


Altos e baixos
Nas tampas dos esgotos
Escoam-se mágoas e perdigotos
Correm as águas
Há ratos mortos.

Os furacões levam as casas
Inundações varrem as asas
Pássaros negros furam os sonhos
Sobem angústias e abandonos

E no entanto
No canto do bar
Há mulheres fúteis a gargalhar
Bebem-se copos entre cigarros
Esquecem-se lágrimas e desencontros
Dançam os corpos
As frustrações
Os travestis imitam as Divas
Os mal amados batem umas pívias
Nos karaokes imitam-se vozes
Imitam-se gestos, comem-se nozes

Almas furadas em buracões
E permeáveis os corações
Ao lado ecoam conversas sem nexo
... entre o cume de uma sexta à noite

ou côncavo e o convexo.